27.1.16

Acredita nos glutões?



«O anúncio de que poderia haver um crédito fiscal de 35%, feito antes das eleições pelo Executivo de Pedro Passos Coelho, eclipsou-se e transformou-se em zero. A tabuada política nem sempre sobrevive à matemática real. O toque de Midas de Maria Luís era, afinal, uma forma de transformar o ouro em chumbo. Escava-se o buraco e continua a surgir esse "zombie" que ressuscita todos os anos, chamado BPN.

O Estado, pelos vistos, lá tem de despejar mais 526 milhões de euros nesse glutão que alimentou tantas boas famílias em Portugal e que agora continua a assombrar os contribuintes distraídos. Tal como o Banif. Tal como o Novo Banco. O dinheiro escorre e evapora-se enquanto aumenta a dívida e os portugueses são chamados, patrioticamente, a tapar os buracos. Acredita nos glutões?, perguntava uma velha campanha de publicidade. Olhando para o que se passa por este sítio não é difícil dizer que sim.

Os glutões são o símbolo da nossa sociedade amena e temperada, do nosso país de brandos costumes. Onde a socialização dos prejuízos se tornou, há muito, um dogma. Uma verdadeira fé "zombie", cujos maiores crentes continuam a venerar porque sabem que nada, nem ninguém, colocará ordem no galinheiro. Afinal, contados os votos presidenciais, sobram agora as contas. Como nos EUA, é preciso, em Portugal, dinheiro para se ser candidato a Presidente. Ou ter partidos que paguem as contas. Quem não teve 5% de votos, para ter direito à subvenção pública, bem pode dizer que todos são iguais, mas alguns são mais iguais do que os outros. Quem gastou pouco não se queixa. Mas a conta de Maria de Belém é maior do que os gastos da campanha: levou à insolvência uma forma de fazer política em Portugal. Ainda acredita nos glutões?»

Fernando Sobral


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