30.1.16

Uma galinha voava, voava...



«Há alguns anos dizia-se, com cinismo, que o Brasil crescia da mesma forma que uma galinha voava: um salto, uma queda, outro salto, outra queda, e voltava sempre tudo ao princípio. Portugal parece-se muito com o Brasil. 

As crises tornam-se momentos de euforia e estes em crises mais ou menos profundas. As últimas centenas de anos mostram como esta galinha tem voado e caído. Sem nada de fundamental mudar. Estamos defronte de um novo ciclo político, com a chegada ao poder de António Costa e a vitória de Marcelo Rebelo de Sousa. Mas isso não implica uma nova realidade económica e financeira, como o Banif já veio provar. (…) Mesmo depois dos erros que o Tribunal de Contas Europeu vislumbrou, a CE continua a fazer de polícia mau contra todos aqueles que não são pesos pesados europeus. Nada de novo. (…)

Vive-se um tempo em que começa a ser muito difícil conciliar as necessidades da maioria da população e aquilo que exige a "realpolitik" definida por entidades não eleitas. E é isso que tem vindo a fazer com que a esquerda tradicional tenha vindo a perder a sua base social de apoio em favor de partidos mais extremistas (muitos deles de direita). Na Europa mais rica junta-se a isso a chegada dos refugiados, mais lenha para a fogueira onde o radicalismo pode dançar à volta.

A globalização e os fluxos de capital que permitiu criaram uma nova sociedade onde o fosso entre os mais ricos e os mais pobres se alargou, com a destruição da classe média e com o evidente perigo que começa a pairar sobre os consensos, definidos pela democracia política. O relatório do Tribunal de Contas Europeu alertava para isso: as severas políticas de austeridade deram força às forças extremistas e xenófobas. Mas, pelos vistos, essa continua a ser a política seguida como fé em Bruxelas e nas instituições internacionais. Tudo em nome da dívida e dos défices. A transformação ideológica é visível: os recursos públicos têm como prioridade a devolução da dívida e dos juros, de modo que os Estados possam continuar a financiar-se. Pouco importa a sustentação da coesão social. E é a isso que assistimos, mais uma vez, por estes dias em que as galinhas não podem voar.»

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