«O seu adeus a Belém marca o fim de uma era e, muito provavelmente, o resto de qualquer influência política no futuro do país que desenhou há muito.
Afinal este Portugal que hoje temos, no melhor e no pior, é uma herança sua. Cavaco Silva sempre foi um crente, mas nunca um devoto. Aliou a crença nas privatizações com o papel determinante do Estado como motor da transformação de Portugal. Trouxe os homens do país real para o centro da política, delimitando o poder da célebre linha Estoril-Cascais, que nunca lhe perdoou. Teve sempre demasiadas certezas e poucas dúvidas e foi, por isso, que muitas vezes se perdeu demasiado atrás de um biombo desnecessário. Não surpreende por isso que o homem que teve os portugueses a seus pés abandone Belém sem uma exclamação de agradecimento. Cavaco perdeu-se no seu tempo e talvez tenha deixado de perceber aquele que se foi construindo longe dos muros de Belém. Esta sua solidão final, ainda mais vincada por estes dias em que Marcelo já parecia ser o PR, mostra que a eternidade, na política portuguesa, é efémera. A sua missão acabou há algum tempo. Mas agora é oficial.»
Fernando Sobral
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