… e, desde ontem, o Facebook encheu-se de dislates das mais variadas cores e paladares – neste caso, por causa de uma fotografia, que usei ontem num outro post. Assino por baixo este texto que a Ana Cristina Leonardo publicou na referida rede social:
«Houve a fotografia do bebé morto na praia. Choraram baba e ranho. Fizeram Photoshop.
Arrepanharam os cabelos. Depois houve a fotografia de um puto vivo – mal nutrido, sujo e ferido num braço, mas vivo - a segurar um cartaz a dizer Sorry. Um puto que, ao contrário do bebé, não morreu afogado no Mediterrâneo e está na Grécia à espera não sabe bem de quê. Foi uma escandaleira. Um bradar aos céus. Todos. Uns porque o puto estava a ser manipulado para que tivéssemos pena dele que nós bem topamos essa merda a léguas. Outros, porque era uma manobra da extrema-direita a achincalhar a criança, e por tabela os refugiados, que não tinha nada que pedir desculpa porque não tinha culpa nenhuma. Todos olharam para a criança como analfabeta, manipulada, usada. Que ela em dez anos tenha, infelizmente, vivido mais do que quase todos nós em cinquenta ou mais, não ocorreu a ninguém. A criança poder estar simplesmente a dizer: Lamento! (e não: Desculpem!) e a dizê-lo com sinceridade, que a criança até possa saber algum inglês (e porque não? foi criada nas cavernas?) também não foi considerado. A encenação! A indignação pela encenação! Não se indignaram nunca com a criancinha dos cravos do 25 de Abril. Olham para a fotografia e o que vêem? Um terrorista em potência. Todos. Uns afirmando-o; outros negando-o.
Arrepanharam os cabelos. Depois houve a fotografia de um puto vivo – mal nutrido, sujo e ferido num braço, mas vivo - a segurar um cartaz a dizer Sorry. Um puto que, ao contrário do bebé, não morreu afogado no Mediterrâneo e está na Grécia à espera não sabe bem de quê. Foi uma escandaleira. Um bradar aos céus. Todos. Uns porque o puto estava a ser manipulado para que tivéssemos pena dele que nós bem topamos essa merda a léguas. Outros, porque era uma manobra da extrema-direita a achincalhar a criança, e por tabela os refugiados, que não tinha nada que pedir desculpa porque não tinha culpa nenhuma. Todos olharam para a criança como analfabeta, manipulada, usada. Que ela em dez anos tenha, infelizmente, vivido mais do que quase todos nós em cinquenta ou mais, não ocorreu a ninguém. A criança poder estar simplesmente a dizer: Lamento! (e não: Desculpem!) e a dizê-lo com sinceridade, que a criança até possa saber algum inglês (e porque não? foi criada nas cavernas?) também não foi considerado. A encenação! A indignação pela encenação! Não se indignaram nunca com a criancinha dos cravos do 25 de Abril. Olham para a fotografia e o que vêem? Um terrorista em potência. Todos. Uns afirmando-o; outros negando-o.
Dito isto, três coisas: 1. estais muito doentes da cabeça; 2: ide aprender inglês; 3. remeto-me ao silêncio porque às tantas é demasiado ruído. E por último: mesmo em estado de guerra, diabolizar crianças é muito feio, caraças.»
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