25.3.16

Samba glacial



«Não há palavras para descrever a situação no Brasil. Os brasileiros deviam começar a dar nomes de corruptos às prisões. Não pode ser só a ruas e avenidas. Os portugueses estão chocados com o que se passa no país irmão. Nunca vimos nada assim.

Felizmente que, isto da corrupção, é uma coisa muito brasileira e cá não temos nada disso. Nem tivemos um PM preso, nem ministros acusados, ou um gestor condecorado pelo PR que, 15 dias depois, se sabe ter ajudado a rebentar a maior empresa do país. Aquilo é degradante. (…)

Vejo as manifestações no Brasil e penso que é natural que o povo brasileiro esteja revoltado, porque depois de tantos sacrifícios já é o quarto banco que são chamados a salvar! Não pode ser. Lemos as notícias do "impeachment" e dou por mim a pensar, de zero a Carlos Costa, qual o grau de dificuldade em obter a renúncia de Dilma?

Foi a divulgação de escutas telefónicas, entre Lula e membros do PT, incluindo Dilma, que provocou o encher das ruas. O juiz Carlos Alexandre deve estar psicologicamente destruído, tanta escuta divulgada e nem meia dúzia de pessoas foram para a rua gritar. É impressionante como os corruptos continuam a ser apanhados ao telefone. Se eu fosse brasileiro, e corrupto, só comunicava por aviões com uma faixa na praia - "O cargo é teu, deposita 1M." Ficavam todos na praia a olhar uns para os outros e metade ia à água para disfarçar.

Não podemos esquecer que o Brasil, há poucas décadas, era uma ditadura. Uma democracia ainda frágil, em que os juízes divulgam escutas, porque querem fazer política, e onde, facilmente, há quem peça aos militares que intervenham depois de anos de ditadura militar (e dizem que a saudade é portuguesa) ou surge alguém que propõe que, se calhar, mais valia o Brasil suspender seis meses a democracia. Muito perigoso.»

João Quadros

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