18.3.16

Sanders. O socialismo emigrou para os EUA



«Sanders está cada vez mais perto de perder a nomeação do Partido Democrata. Mas a sua maior conquista pode ter sido mostrar que milhões de americanos estão dispostos a colocar um socialista na Casa Branca. (…)

"Nunca o negaria. Nem por um segundo. Sou um social-democrata", assume Bernie Sanders. O senador de 74 anos, eleito pelo pequeno Estado do Vermont, não foge a esse epíteto. Pelo contrário. Abraça-o e repete-o. Até agora, não se está a sair mal.

Quando anunciou, há quase um ano, que ia correr à Casa Branca, as sondagens davam-lhe pouco mais de 5% dos votos. No entanto, o Verão de 2015 trouxe um aumento do entusiasmo. As bases da campanha foram crescendo em número e em volume, com os jovens a servirem de trave mestra da estrutura. Hoje, as sondagens dão-lhe cerca de 40% do voto nacional face aos 50% de Hillary Clinton. E conquistou 818 delegados contra 1.139 da sua adversária (além destes, há também 712 superdelegados, cuja esmagadora maioria apoia Clinton).

Um auto-proclamado socialista está numa eleição renhida para ser o nomeado de um dos dois maiores partidos dos Estados Unidos. Pode parecer ficção científica, mas as pistas existiam há muito. (…)

Na verdade, Sanders é apenas o ponta-de-lança de uma transformação que começou lá atrás. As sementes de uma juventude mais encostada à esquerda foram semeadas há muito e, ironicamente, acabaram por florir durante a Presidência Obama, a candidatura que mais mobilizou jovens activistas. A popularidade de Sanders não pode ser explicada sem falar do "Occupy Wall Street", um movimento efémero - os manifestantes estiveram só dois meses no Zuccotti Park - mas que moldou definitivamente o discurso mediático com o slogan "Nós somos os 99%". A desigualdade não voltou a sair dos jornais e das televisões. Quatro em cada dez participantes no Occupy tinham trabalhado apenas três anos antes na campanha de Obama de 2008. (…)

Bernie Sanders não descobriu a pólvora. Soube ler os sinais e surgiu no momento certo, integrando parte destas reivindicações num programa político menos radical, mas que pretende mudar o sistema. (…)

Para muitos dos jovens que votam Sanders, há poucos motivos para ver "socialismo" como uma palavra proibida. Muitos deles nasceram depois da queda do Muro de Berlim ou ainda nem sequer tinham fumado um cigarro antes do colapso da União Soviética. Não têm memória de uma guerra de civilizações entre EUA e URSS e a Rússia que conheceram já não é socialista.»

Nuno Aguiar

1 comments:

Niet disse...

A luta é muito renhida e, vamos lá ver, se Sanders acaba por apoiar criticamente Hillary Clinton...As más linguas de Washington andavam a propagar o veneno de que a sorte de Hillary acabaria por ser igual à do Busch filho.A cota da antiga Secretaria de Estado de Obama não é nada lisonjeira, muito pelo contrário, por causa da catastrofe no Médio Oriente, na UJcrânia, etc.A anunciada liderança de Sanders com o apoio do lider dos Verdes tinha oportunidade(s) de mostrar uma alternativa. Entretanto, o W.Post,o NY.Times, a CNN e a NSNBC apoiam Hillary: o fogo de "barragem " a Trump é colossal e, tudo o leva a crer, incontornável.Salut! Niet