«Os "Papéis do Panamá" são um canal com vista para um mundo paralelo que ninguém desconhecia, mas que todos contornavam. Verdadeiro e verosímil. Mas os "Papéis do Panamá" são uma pequena parte da "deep web" da internet do dinheiro escondido e reciclado: um mundo paralelo que nem Júlio Verne nas suas vinte mil léguas submarinas descobriria. Mostra que, entre dinheiro de acções legais e de ilegalidades várias, há um desejo de fugir aos impostos. E esse começa por ser o centro do debate que as "offshores" propiciam: elas põem em causa os princípios do contrato social, de troca por serviços públicos e pela representação democrática. A fuga de capitais e lucros aos impostos (hoje visível na arrogância de empresas como a Google, o Facebook ou a Amazon) é uma das faces desta terra de ninguém em que se tornou a globalização financeira. Por outro lado, a pressão fiscal incentiva empresas e pessoas comuns a tentar iludir a teia da lei.
Quem em Portugal, com a pressão fiscal brutal que suga parte da riqueza, não sonha em colocar o seu dinheiro a salvo de um fisco amoral? Os "Papéis do Panamá" levantam mais questões do que dão respostas concretas. Porque trazem, na sua sede de transparência, as sementes da dúvida: porque não há aqui americanos ou alemães, porque os apanhados no esquema estão mais ligados ao financiamento terrorista e não de drogas (em linha com a política de investigação dos EUA)? A denúncia que abriu o caminho para a investigação serve para revelar abusos, mas que outros quiseram ocultar? Todas as teorias da conspiração servem para este caso.
Este mundo das sombras necessita de ser iluminado, até para demonstrar a apatia que tem encontrado em quem deveria fazer algo para impedir a existência de territórios sem lei. Afinal a evasão fiscal é fácil. A UE ou os EUA não estão inocentes neste processo. Todos falam da imoralidade da evasão fiscal. Há um consenso. Mas ninguém o pratica.»
.
0 comments:
Enviar um comentário