«Na antiga Roma, Janus era o deus das portas, das transições, do início e do fim. As portas do templo de Janus abriam-se em tempo de guerra e fechavam-se para assinalar a paz. Tinha duas faces, podendo assim olhar para o passado e para o futuro ao mesmo tempo.
Tal é a forma de acordo entre o PS e o BE e o PCP. Cada um deles olha para direcções opostas, pensando no seu futuro após este acordo de interesses. O chamado debate sobre o Programa de Estabilidade evidencia este concílio de deuses onde assenta a maioria: cada um vê o que quer e evita vislumbrar o que o enjoa. Pelo meio cada um degusta um ou outro sapo ou elefante segundo o menu ideológico seguido. (…)
Bruxelas quer uma ficção com que possa entreter os seus funcionários e alimentar a sua gula de "reformas" e aqui a tem. É um Programa de Estabilidade com um argumento menos interessante do que qualquer série da Netflix. Até porque a Europa lembrou-se agora de começar a discutir os critérios do défice estrutural. Claro que no meio de tanta magia, folclore e fogo-de-artifício, só falta debater o que é essencial: qual é a estratégia para desenvolver a economia nacional. Assunto que continua a não motivar as mentes da elite política do país, talvez por ser demasiado cansativo. Janus não mostra só a divisão entre PS e BE e PCP. Ilustra o que divide a Europa de Portugal e o Governo actual da oposição. A instabilidade continua após a discussão do chamado Programa de Estabilidade.»
Fernando Sobral
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