Não conheci pessoalmente Paulo Varela Gomes. Ou melhor: vi-o uma vez, de raspão, em 1967, teria ele 14 ou 15 anos, quando fui a sua casa ter com a mãe, Maria Eugénia Varela Gomes, para ela me entregar uma carta que o Paulo escrevera ao papa Paulo VI, poucos dias antes da chegada deste a Portugal. Pedia-lhe que intercedesse pela libertação do pai, então ainda a cumprir os seis anos de pena a que fora condenado por causa do golpe de Beja. O objectivo era que a carta em questão fosse entregue na Nunciatura e, por razões que já expliquei em tempos mas que não vêm agora ao caso, era-me fácil desempenhar discretamente a tarefa. A Maria Eugénia acredita que a iniciativa foi eficaz e que à mesma se ficou a dever a redução das medidas de segurança a que o marido estava sujeito, de um ano e meio para seis meses.
Não será fácil a quem nasceu ou cresceu em liberdade «sentir» o significado destes pequenos factos: uma carta de um adolescente que tem o pai preso pela PIDE, uma entrega semiclandestina de um texto dirigido a um papa cuja visita não se desejou mas da qual se tentou tirar partido, etc., etc. Mas foi também assim que chegámos à liberdade. E que temos de a defender, como o Paulo tão bem sublinhou no fim de um magnífico texto – Aquilo que é necessário – escrito a propósito do 50º aniversário do Golpe de Beja: «A iniquidade não pode vencer.»
A morte venceu-o agora. Os seus heróicos pais ainda por cá ficam.
(Na foto, Maria Eugénia Varela Gomes com os filhos.)
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