9.5.16

O boletim do BdP



«O Boletim Económico do Banco de Portugal não é tão estimulante como "Crime e Castigo" de Dostoievski ou "As 20 Mil Léguas Submarinas" de Jules Verne.

É, claro, menos divertido do que ler um policial de Raymond Chandler. E causa muito menos rubor nas faces do que ler "As 50 Sombras de Grey". (…)

É claro que, lendo o Boletim Económico de Maio, percebe-se que há ali momentos em que mesmo os mais sérios estudiosos tentam fazer um pouco de ficção. Repare-se num pequeno trecho delicioso da prosa: "Indicadores de desempenho em áreas-chave da despesa pública, como a saúde e a educação, sugerem que as políticas de contenção da despesa implementadas nos últimos anos não terão posto em causa os níveis e a qualidade global de provisão destes serviços." Claro que não: retire-se muitas centenas de milhões de euros ao SNS e ninguém repara que a qualidade dos serviços nos hospitais e centros de saúde minguaram.

É óbvio que não estamos como na Grécia (onde não há dinheiro para comprar seringas e agulhas), mas os estudiosos do Banco de Portugal, antes de elaborar teorias, deveriam olhar para os hospitais e para as escolas. Porque se a situação não piorou mais foi porque os profissionais destes sectores fizeram das tripas coração. Acredita-se que os estudiosos do BdP preferissem escrever telenovelas em vez de boletins económicos. Tinham uma maior liberdade para criar. Mas, mesmo que digam que se basearam em indicadores, deveriam antes ir aos hospitais e às escolas. Só para apalparem a realidade.»

Fernando Sobral

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