«Não se pode pedir a um delicodoce golfinho ou a um perigoso escorpião que contrariem a sua natureza. A milenar sabedoria oriental, em especial a chinesa, têm teorizado muito sobre o assunto. Numa palavra, quanto mais velhos ficamos, mais quimérica é a ideia de mudança de personalidade.
Vem isto a propósito de Marcelo Rebelo de Sousa e dos seus primeiros cerca de mês e meio de consulado. (…)
Em termos políticos, Marcelo tem jogado pelo seguro: não dispensou a sua “lua-de-mel” com os Portugueses e muito menos com o Governo. Tem sido uma espécie de porta-voz oficioso de Costa, dando-lhe pancadinhas nas costas em todos – ou quase – os assuntos em que o melindre das situações poderia causar engulhos. (…)
Não se lhe pode pedir que dispa o fato de comentador político-social-desportivo, pois voltaríamos à história da natureza do golfinho e do escorpião. Mas o tempo chegará em que Marcelo não poderá apoiar Costa, seja por erro nas políticas, seja por tacticismo. E ninguém duvida que o actual Presidente é um exímio jogador de xadrez político. Na teoria, pelo menos, é o melhor. Na prática, terá agora a oportunidade da vida para o demonstrar. (…)
E quando acabar a “lua-de-mel” com o Governo, o que fará Marcelo? Como tudo no actual PR, nem os astros sabem. (…)
Era bom que não comentasse tudo e mais alguma coisa, que se resguardasse mais. Já todos entendemos a “política dos afectos” que, não enchendo barrigas, sempre ajuda a aquecer o coração. Gostamos, mas não é só isso que se espera de um PR. Quando os “puxões de orelhas” forem necessários – sobretudo em privado –, não há espaço de manobra quando a imagem da Presidência se vai desenvolvendo na sombra da do Governo. E Costa, inteligente como é, tem-no sabido aproveitar.
Estará Marcelo a cair na teia “candidamente” urdida pelo Primeiro-Ministro, ou à primeira oportunidade é o Presidente que demonstrará o seu lado “escorpiónico”? Entre “marcelices” e “costices”, havemos de saber. E um agradecimento a estes dois protagonistas que têm dado muito mais cor a uma política que estava morta com o eixo Cavaco-Passos-Portas e agora é motivo para uma espreitadela ao “Estoril Open” ou para uma visita à última ferrovia alentejana.»
André Lamas Leite
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1 comments:
quem é golfinho aí?
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