«No fim-de-semana reuniram-se, em Berlim, os ministros dos Negócios Estrangeiros dos países fundadores da União Europeia (UE) para analisar o Brexit. (…) Angela Merkel, François Hollande e Matteo Renzi encontraram-se para concertar uma resposta ao Reino Unido. Diz-se, em defesa desta estratégia, que a UE precisa de ter uma voz de comando forte.
Acontece que o problema da UE não tem sido a falta de voz de comando. Antes pelo contrário. Todos sabem que o general que comanda as tropas é Angela Merkel, e que François Hollande e Matteo Renzi só fazem a vez de militares graduados por força do mercado interno dos respectivos países e do seu peso histórico. (…)
Ironicamente, tanto Hollande como Renzi ascenderam à liderança dos respectivos países, com promessas mais ou menos veladas de baterem o pé ao poder de Berlim sobre a UE. Desistiram dessa ideia, por causa das fragilidades económicas dos respectivos países e submeteram-se à visão dominante da Alemanha, a qual tem escrito a história política e económica da UE desde a crise financeira de 2008.
Estes encontros, por isso, mais não servem do que para institucionalizar a ideia de que existe uma UE a duas ou três velocidades, em que uns mandam e outros obedecem. A resposta ao Brexit, materializada nestes encontros dos que mandam, perpetua a concepção da UE que nos conduziu até aqui. Mais. Alimenta os discursos nacionalistas e fomenta em muitos países o crescimento da opinião de que é preferível um corte do cordão umbilical com Bruxelas, seguindo o caminho agora escolhido pelo Reino Unido.
Agora que a Europa precisava de dar sinais evidentes de mais solidariedade e maior coesão, reforçando o conceito de partilha de decisões e de concordância de objectivos, há líderes europeus, Merkel, Hollande e Renzi, que fazem precisamente o inverso, com uma pesporrência que não cessa de causar perplexidade.
A UE, depois da saída do Reino Unido, precisava de falar a uma só voz. Afinal, constata-se que fala a três e os outros 24 são apenas caixas de ressonância que amplificam a voz dos líderes, os quais devem estar ungidos de um poder que emana desse estatuto de fundadores. E não se diga que se trata apenas de encontros preparatórios para afinar pontos de vista, porque ao olhar da opinião pública são os generais a decidir unilateralmente para onde mandar os seus soldados. Precisamos de mais Europa, não desta Europa.»
Celso Filipe
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