Conversa a várias vozes numa casa de pasto do Poço do Bispo, Lisboa.
- Jogo, quê? Mas alguma vez foi o jogo, o burro-em-pé?
- Se serve para apostar é jogo.
- Mas quais apostar, quais joão! Com que ver, com que moral é que você ia apostar num jogo de crianças?
- Aí é que está.
- Além de que nunca foi jogo, caraças. Burro-em-pé nunca foi jogo.
- Nem burro. Burro-em-pé é palhaço.
- Bem visto.
- Não é vaza, não é bisca, não é coisa nenhuma.
- É roda de putos...
- É baralho no ar...
- ...Velhadas a zurrar.
- Velhadas, quê?
- Deixa dizer, pá. É cuspo, é dedo, reinação pra engonhar.
- É moinho de cartas, adivinha a feijões.
- Burro-em-pé é paciência...
- ...Debicar por debicar.
- É brinquedo...
- Entretém...
- ... Pró vizinho e prá criança.
José Cardoso Pires, O burro-em-pé, Moraes editores, 1979.
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