«Bela Lugosi tornou Drácula num mito. Identificou-se de tal maneira com ele que, nos seus últimos dias, acreditava que era o verdadeiro Drácula. Quando foi incinerado em 1956 ia vestido de vampiro, segundo as indicações que tinha deixado no testamento.
A Comissão Europeia, que não tem as qualidades de Bela Lugosi, está convencida de que é uma justiceira cujos poderes foram adquiridos em saldo numa aldeia da Transilvânia. Por isso, não tendo mais com que se entreter, e enquanto não chega o furacão dos problemas bancários europeus (dos alemães aos italianos), o banquete pode ser servido. Portugal e Espanha eram alvos fáceis e indefesos. Mais Portugal, porque Espanha faria como sempre: degustaria as sanções com paelha. Portugal é pior: os juros da dívida são uma espécie de bebida tonificante para os aprendizes de Drácula e uma fonte de anemia para os portugueses. E sem investimento não se sairá do atoleiro da dívida e do défice.
À volta disso as décimas do défice são apenas um disfarce para pressões de origem política. Porque a Europa já está dividida entre o Norte e o Sul. A vertigem dos burocratas de Bruxelas não muda por não se aplicar sanções a Portugal (trocando-as por metas orçamentais mais duras). A tentação da guilhotina continua lá, pronta a ser utilizada como ameaça duma próxima vez. Com a casa a arder, entre migrantes e terrorismo, planície propícia ao nacionalismo de direita que vai emergindo, a Europa veste-se de Drácula para assustar os pobres do Sul.
António Costa sabe que o seu OE convence apenas os fiéis, mas a CE só deseja observar os princípios sagrados de Berlim sem irritar o insignificante poder francês. A questão não é a inexistência de sanções. É de lógica, inteligência e de bom senso numa união que só pensa em termos fiscais, como se estes fossem os únicos Pokémons à solta. Tudo isso falta neste momento a esta Europa de série B. Este filme de vampiros é uma espécie de velório. Que a Europa faz a si própria.»
Fernando Sobral
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