«A Europa está, aparentemente, unida, apesar do Brexit. Mas continua o seu irreversível declínio. Deixou de ser um exemplo moral e ideológico para o mundo, algo que era desde o Iluminismo.
A sua anemia económica tornou-a tão-só um mercado cobiçado por americanos ou chineses. Militarmente é um tigre de papel. As crises que tenta debelar ao mesmo tempo, de forma atabalhoada, mostram que não há uma estrela polar que guie os seus dirigentes e nações. Há talvez a estratégia de Wolfgang Schäuble (e dos interesses que defende) de transformar a União Europeia em dois grupos, um liderado pela Alemanha, e outro que circulará na sua periferia. Mas, no essencial, a Europa unida deixou de ser um projecto comum capaz de cativar os cidadãos. Uns porque têm medo dos emigrantes, os outros porque foram chacinados economicamente pela austeridade. (…)
A "pátria europeia" tornou-se um longo bocejo sem fim. A tentativa de construir uma superestrutura legal e económica chocou frontalmente com a inexistência de uma base cívica, cultural ou histórica.
Hoje, se olharmos para a UE, vemos diferentes tipos de "democracias", algumas delas de duvidosa transparência. A crise radicalizou tudo: se nos Estados Unidos, em caso de crise, o Governo federal desloca sem problemas os dólares dos contribuintes do Arizona para a Califórnia, na UE socorre-se os que estão em grave crise financeira, mas com juros altíssimos e penalizações que tornam os países sob intervenção verdadeiros protectorados. Era fácil ser "europeu" quando isso não custava nada a ninguém: agora como é que se diz a um alemão que vai "pagar" a crise dos gregos ou dos portugueses? Com homens cinzentos como os que actualmente dirigem a UE e muitos dos países do clube, pouco há a esperar. (…)
A telenovela das "sanções" (a que os nossos vizinhos espanhóis, confrontados com a mesma tentação persecutória de Bruxelas, ligam pouco ou nada) mostra como esta Europa navega à bolina. Com o Brexit, a crise bancária italiana pronta a rebentar, ou o fluxo migratório, as faces cinzentas do poder da UE estão é preocupadas com Portugal e Espanha. Como se tivessem de encontrar "culpados" para poderem expiar os seus disparates em quase todas as áreas. É triste esta Europa que caminha para a sua ruína moral. E para o seu fim como a conhecemos.»
Fernando Sobral
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