«Jason Bourne é o espião que não tem memória. Tem múltiplas identidades e usa-as apesar de atormentado pelo seu passado muito negro. Quando o FMI se sente angustiado como Bourne, chama o seu Departamento de Avaliação Independente.
Isto enquanto, no dia-a-dia, se comporta de forma arrogante como se fosse o James Bond da verticalidade económica. Portugal (e a Grécia) conhece bem o FMI arrogante que se assemelha ao Bond das fantasias, com os carros, o jogo, as mulheres, as viagens, os "gadgets", o poder e, claro, o Martini. Tudo isso torna Bond um mau ser humano. Tal como o FMI, como se viu durante os anos da troika. Claro que cada um escolhe o seu herói preferido. E há muitos que preferem o FMI vestido de James Bond ao que traja Jason Bourne. Ou, mesmo em Portugal, queriam que a Comissão Europeia usasse o chicote para açoitar o Governo (e os portugueses).
A questão é que o FMI usa uma espécie de Frankenstein para se rebelar contra as regras "científicas" que o criaram. E assim temos o milagre da multiplicação: o FMI devora-se a si próprio. A análise do Departamento de Avaliação Independente do FMI é mais do que uma canelada nos técnicos (e decisões de políticos que os nomearam) sobre a sua acção nos países da Europa "intervencionados". É um atestado de indigência técnica e intelectual a quem andou a brincar com os destinos dos portugueses ou dos gregos. Como se os cidadãos destes países fossem ratinhos usados como cobaias numa experiência.
O que os técnicos do FMI terão feito bem é reduzido face ao que fizeram mal. É um horror de tolices, desde previsões económicas erradas a um pacote de financiamento curto, de retoma das exportações que não tiveram nada que ver com as "reformas estruturais" apregoadas a insistência insensata em estratégias mesmo depois de os resultados terem demonstrado o seu falhanço. Depois desta avaliação os portugueses deveriam pedir uma indemnização ao FMI por danos materiais e pessoais. E a quem foi atrás dele, fascinado pela sua pose grotesca e mesquinha de pretenso Bond.»
Fernando Sobral
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