«A Europa descobriu a fórmula que, não significando nada de substancial, serve para tudo. Entrou numa "crise existencial", maneira edulcorada de se referir ao atordoamento pós-Brexit e ao estado de semiparalisia em que ficou por todas as crises que vai adiando e cuja solução, cada dia que passa, se vai transformando num quebra-cabeças mais difícil de resolver.
Mas essas crises têm nome e não podem ser varridas para baixo do tapete com estados de alma: a falta de liderança, o crescimento perturbadoramente baixo da Zona Euro durante a última década, a desigualdade entre os Estados-membros, a formação de vários clubes mutuamente exclusivos, a união monetária incompleta que a crise do euro transformou numa relação entre devedores e credores, o reacendimento dos populismos e dos nacionalismos, a coisa nova que é o terrorismo islâmico, a fratura gerada pelos imigrantes e os refugiados, a guerra na Síria e a situação sempre explosiva do Médio Oriente, a Ucrânia… (…)
Além de todos os problemas que está a levantar, o Brexit pode transformar-se na oportunidade de a UE se repensar e traçar a estratégia que há anos lhe falta. Mas está tudo preso por fios. É altura de os sinos tocarem a rebate. É cada vez mais difícil estabelecer consensos e cada dia que passa é um dia perdido: em vez de estratégia, os líderes que por enquanto nos governam perdem-se em contas de percentagens de PIB e dos dias que faltam para as suas eleições. Assim não vamos lá. (…)
A Europa está em fase de negação. O atentismo paralisa, mata qualquer projeto ou iniciativa. E ironia das ironias, sintoma gritante de impotência e incapacidade, a proclamação convicta do presidente Juncker: existe uma "coincidência no diagnóstico". Ao presidente da Comissão Europeia seria difícil dizer melhor que, por agora, não sabe o que há de fazer!»
José Maria Brandão de Brito
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