«A austeridade e a despesa sem limites tornaram-se, entre nós, as duas lâminas da guilhotina. Se a Comissão Europeia tem a secreta esperança de que Portugal suba voluntariamente até ao cadafalso, mais intrigante é a política seguida pelo PSD quando fala do OE para 2017. Depois do "brutal aumento de impostos" do tempo de Vítor Gaspar, do empobrecimento da classe média e do estrangulamento real dos mais desprotegidos (como ficou evidenciado no estudo feito pela Fundação Francisco Manuel dos Santos), parece que os partidos que partilharam o anterior Governo e funcionaram como mordomos da troika descobrem agora uma nova teoria da relatividade.
Há qualquer coisa de autofágico na oposição do PSD. Durante meses, guiados pelo novo homem que nunca tem dúvidas e raramente se engana, Passos Coelho, o PSD martelou os ouvidos dos portugueses com uma música digna de "heavy metal": o Governo era despesista. Ou seja, ia gastar o que tinha e, especialmente, o que não tinha. Estranhamente, nos últimos dias, o PSD engole o que disse e transformou-se numa salsicha vegetariana. É um espectáculo comovedor. Mas, ao mesmo tempo, um menu dispensável. Agora o Governo, em vez de investir, promove a austeridade, diz o PSD. O que disse, desdiz. O que defende, contradiz. Não há aqui coesão de ideias. Nem há ideias sobre um modelo que Portugal deva seguir fora da guilhotina da austeridade ditada por Berlim. Há uma balbúrdia andante, em que um neurónio choca com o outro e não sai nada. Este é o momento Robespierre de Passos Coelho. O problema é que é o seu pescoço que está em causa.»
Fernando Sobral
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