«A nomeação da nova administração da CGD começou por ser feita como se António Domingues tivesse ido a um alfaiate requintado: queria um fato à sua medida e o artífice garantiu-lhe que nem pareceria mais anafado nem mais magro.
A fatiota mascararia qualquer imperfeição. Nada disso aconteceu. António Domingues sai de cena com um fato onde uma manga é mais comprida do que a outra e as calças se transformaram em calções. (…) Um banco público não é uma empresa privada. E a força política em Portugal tem mais músculo do que pareceres de doutas pessoas. António Domingues cai vítima das suas fragilidades: as que tinha e as que lhes juntou durante estas semanas. Nem o silêncio de declarações de rendimentos era de ouro, nem a sua alquimia permitia transformar uma entidade pública como a CGD numa outra qualquer. Marcelo e António Costa juntaram-se num desígnio: mostraram-lhe a porta do labirinto onde se tinha metido. (…)
As regras eram conhecidas. Alterá-las era subverter o espírito de um banco estatal que deve estar ao serviço da economia nacional e dos seus empresários. E não de jogos de bastidores impossíveis de escrutinar. Num cargo público não se pode nem deve usar uma incineradora para tranquilizar consciências. Por isso o resultado desta trapalhada na CGD é o enfraquecimento da democracia. No fim, António Domingues praticou um diletante exercício de roleta russa defronte dos portugueses. E não sai como um herói.»
Fernando Sobral
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