«Em Portugal, já não se discute onde está o Wally. Pergunta-se onde está o Diabo, ou o Diabinho, na sua versão mais carinhosa e fofa. Há respostas para todos os paladares. E disfarces para todos os que se julgam envolvidos no jogo.
Mas enquanto a classe política se entretém com esta versão de "paintball" pacóvia, lá fora as preocupações são outras. O dicionário Oxford considerou como palavra do ano um neologismo: a pós-verdade. Traduzido para a linguagem clara isso significa que os factos objectivos influem cada vez menos na formação da opinião pública do que a emoção e a crença pessoal. (…)
Olhe-se à volta: o Brexit ou a eleição de Donald Trump são encaradas como pós-verdades. Embora, no caso de Trump, e olhando para a equipa que se está a constituir na Casa Branca, é caso para dizermos que se esta é a verdade, tragam-nos depressa uma mentira. A questão central é como a democracia vai sobreviver a estes afluxos de "pós-verdades", onde os cidadãos baseiam as suas convicções em afirmações que sentem ser verdadeiras, mas que não se apoiam na realidade. Esta tendência destruidora está agora a afectar todos os contratos sociais, a discussão serena ou a predominância da ética e da moral. Estamos a construir uma outra verdade onde chocam os ovos do populismo e do radicalismo. Nada que este mundo demasiado desigual não estivesse a fermentar. Trump traz mais do que uma pós-verdade ao mundo: traz a verdade nua e crua. A Portugal, onde as notícias chegam mais devagar, também chegará um dia.»
Fernando Sobral
.
0 comments:
Enviar um comentário