«Foi uma surpresa? Foi. As empresas de sondagens tornaram-se especialistas em surpreender o comum mortal e os outros mais espertos. A derrota de Trump estava anunciada por números e opiniões de gente com profundo conhecimento na matéria. (…)
Detesto a atitude "Cavacal" de dizer - "eu bem disse" -, mas há uns meses escrevi neste jornal que Hillary era um Mister José Peseiro da política. Lembro-me bem da vantagem que Hillary tinha, em relação a Obama, no início das eleições democratas há oito anos. Ao intervalo, estava a ganhar por 4-0. Obama tinha um "Yes We Can", Hillary tinha sete páginas de números e estatísticas. Trump tinha um "Making America Great Again" e uma multidão furiosa, Hillary tinha um estudo de mercado e malta que foi ver o concerto da Beyoncé. Os archotes venceram os telemóveis e isqueiros. (…)
Após a vitória de Trump, David Duke, um ex-líder dos Ku Klux Klan, disse que aquela era "one of the most exciting nights of my life" - e imaginem o que ele já não deve ter feito de noite. Se, para um "indivíduo" do Ku Klux Klan, a vitória de Trump é razão para festejos, sou tentado a pensar que o que aí vem não vai ser divertido.
O resultado das eleições nos EUA é uma espécie de montanha russa gigante do que já vamos vendo por aqui, na Europa, em formato de carrossel. É um sinal com mau aspecto visto à lupa. E o diagnóstico não é agradável. Posso ser pessimista, e se quiserem vão procurar uma segunda opinião, mas a minha análise é que, a continuar assim, dificilmente vai haver uma colecção de Primavera/Verão 2017 United Colors of Benetton.
Não há aqui nada de novo. É outra vez o ovo da serpente, mas, agora, na Sala Oval. Querem os ovos mexidos ou estrelados?»
João Quadros
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