«Matteo Renzi, julgando ser o herdeiro de Lorenzo de Médici, "O Magnífico", julgou que a acção política lhe garantiria alguma eternidade no poder. Equivocou-se. Renzi chegara a primeiro-ministro através de jogos de poder: agora, ao tentar atravessar o Rubicão, afogou-se nele. Não é o fim do mundo para Berlim e Bruxelas: Merkel detestava Renzi e espera agora que uma coligação de direita liderada por um tecnocrata trave Beppe Grillo, um bardo que deseja a saída da UE e do euro. Itália não é Portugal ou a Grécia: é uma gigantesca pizza difícil de digerir. Para já a fatia mais indigesta é o periclitante sector bancário italiano: este tem cerca de 20% da enorme dívida italiana. Os bancos italianos têm financiado o Estado e esperam, com impaciência, que este os financie agora. Era um "trade-off" normal, mas que a UE detesta.
A outra fatia de pizza que assusta Bruxelas e Berlim é a possibilidade de um vazio do poder que possa permitir o assalto dos bárbaros de Beppe Grillo. Este não quer o euro. E sem Itália, e com França a começar a ficar muito periclitante, imagina-se o que poderia suceder então se as periferias se rebelassem contra o império da fé no euro e no Tratado Orçamental. O problema é que este não é um filme de Federico Fellini, mesmo parecendo: como em "La Dolce Vita", Itália tem de escolher entre duas formas de vida. Tal como França. Em comum há o mal-estar das antigas classes médias que viram como a globalização e a imobilidade rancorosa da UE, com a sua célebre "desvalorização interna", acabavam com a sua segurança e com a esperança de futuro. Não admira que a sereia do populismo seja música enternecedora. A decadência da Europa está na mesma: continua sem perceber porque nascem Beppe Grillos.»
Fernando Sobral
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