14.3.17

A sorte de Assunção Cristas


(Alberto Frias)

«Quando um partido fica órfão do poder tem, normalmente, uma tendência: dizer que se vai renovar. Ou rever o seu programa, para provar que não ficou amarrado a ideias caducas e congelado pelo passado.

Ou, então, muda de líder para trocar as voltas à memória. O CDS, de forma inteligente, fez isto. E por isso hoje Assunção Cristas comemora, com alguma euforia, um ano à frente do partido que parecia ser a máscara de Paulo Portas. Cristas criou o seu espaço. E, não esperando que uma vidente lhe dissesse que era a sua hora, candidatou-se à Câmara de Lisboa. Fez bem. E agora colhe os dividendos, mesmo que Paulo Núncio pareça uma bola de ferro que acorrenta o partido a acontecimentos dispensáveis. Ao contrário do CDS, o PSD manteve o líder. Pior: cristalizou-se como o partido da economia e das finanças. Fora disso não há país nem mundo. As únicas vozes que se escutam no PSD são as de Passos Coelho e Maria Luís que, inevitavelmente, falam de aritmética. Como se não tivessem sido mestres na arte da subtracção de rendimentos e direitos aos portugueses. A sociedade estilhaçada que por aí existe é o seu legado. Mas, sobre isso, não emitem opinião. Nem sobre os problemas sociais, o desemprego, a cultura, a vida nas grandes cidades, o ambiente, ou qualquer outro tema.

Tudo tem uma razão. De vez em quando Passos Coelho gosta de acordar os portugueses tentando recordar-lhes que foi primeiro-ministro. Estes, estremunhados, fazem-lhe a vontade. Geralmente isso sucede pelas piores razões. Não se encontra no actual PSD uma ideia para o país, para o futuro, para o que resta do contrato social. Só se fala da CGD e do crescimento económico. É óbvio que isso é importante. Mas o país não se reduz a isso. Os resultados das mais recentes sondagens de opinião não iludem esta dissolução do PSD, um partido essencial para se discutir o que é e pode ser a sociedade portuguesa. É por isso que estas são boas notícias para António Costa, lançando cascas de banana que fazem Passos Coelho perder a pose de ex-primeiro-ministro. E, claro, para Assunção Cristas.»

Fernando Sobral

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