«O populismo perdeu nas legislativas holandesas, como já antes tinha perdido nas presidenciais austríacas, contrariando uma grande parte dos prognósticos feitos até às vésperas dos dois sufrágios. Mas nem por isso a ameaça desapareceu nem desaparecerá, mesmo que Le Pen seja derrotada em França e a extrema-direita permaneça com um estatuto minoritário na Alemanha. Se a grande mobilização do eleitorado holandês foi decisiva para impedir Wilders de conquistar o primeiro lugar nas urnas, é também um facto que o discurso populista e xenófobo contagiou a mensagem do vencedor das eleições, o primeiro-ministro Mark Rutte, e dos partidos de direita e do centro que deverão constituir a base da futura coligação governativa. (…)
Em geral, a Europa mostra-se hoje muito menos tolerante à recepção dos imigrantes e receia pela segurança das suas fronteiras e das suas sociedades. O medo do terrorismo tende a confundir-se com o medo do outro – do diferente, do muçulmano – e ultrapassa a racionalidade e os factos objectivos, como é possível constatar na Holanda, um país que ficou conhecido pela sua abertura em matéria de costumes e onde vigora um ambiente raro de prosperidade económica e paz social. Talvez por isso mesmo, os holandeses temem que, no cenário de um mundo em convulsão, a sua bolha de progresso e segurança possa ser rompida pelas ameaças externas (percepcionadas também como internas).
Entretanto, a fragmentação da paisagem política holandesa que emergiu das últimas eleições reflecte outra tendência europeia em curso – e que parece prestes a explodir em França, onde a alternativa mais plausível a Le Pen, Emmanuel Macron, questiona as fronteiras entre a esquerda e a direita tradicionais (que ficariam ambas excluídas, pela primeira vez, da segunda volta das presidenciais, um verdadeiro abalo sísmico na história moderna do país). (…)
De qualquer modo, a derrota de Wilders ou Le Pen não elimina magicamente as raízes do contágio populista introduzido pelo Brexit e por Trump através da Europa e do mundo.»
Vicente Jorge Silva
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1 comments:
«De qualquer modo, a derrota de Wilders ou Le Pen não elimina magicamente as raízes do contágio populista introduzido pelo Brexit e por Trump através da Europa e do mundo.»
É claro que não as elimina. A única coisa que as eliminaria seria uma alternativa que não fosse de extrema-direita ao terror neoliberal que avassala o Mundo. As esquerdas que pensem nisto, porque, se não forem elas a construir uma alternativa verdadeira, sobrará a falsa.
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