«Luís XIV não era o símbolo da modéstia. Por isso, pretendendo brilhar tanto como o astro-rei, proclamou-se o Rei Sol. Mostrava assim que os seus poderes eram ilimitados, tal como os do Sol, verdadeiro símbolo da vida, da ordem e do rigor.
Isso servia para recordar aos súbditos que, sendo tão poderoso como o Sol, qualquer contestação ao rei acarretaria a morte do contestatário. Para simbolizar o seu poder, Luís XIV mandou erguer Versalhes. Dali pôde proclamar: o Estado sou eu! Versalhes tornou-se um símbolo de poder: foi ali que a Alemanha teve de assinar o humilhante tratado de paz após a I Guerra Mundial que a conduziu à pobreza e ao segundo conflito mundial. Nenhum país tinha a possibilidade de pagar as reparações financeiras e geográficas exigidas à Alemanha. Não deixa de ser curioso como, para discutir o futuro da Europa, 60 anos após o Tratado de Roma, Versalhes seja o centro do poder na UE. Ali estiveram Angela Merkel, Mariano Rajoy, Paolo Gentiloni e o anfitrião François Hollande. Se a Europa estava dividida, Versalhes é o tratado que marca o início da nova ordem.
Já não há pudor, mesmo que o Livro Branco de Jean-Claude Juncker funcione como uma espécie de "Anita perdida na floresta" do sonho perdido. A Europa caminha a passos largos para ser um comboio dividido numa linha TGV, noutra regional e uma última de comboio dos torresmos. Resta ainda saber a qual das linhas pertencerá Portugal. O mundo do Rei Sol foi substituído pelo novo monarca que governa a Europa, o rei-sombra. Um governo de interesses que não hesita em humilhar países como a Grécia, esquecendo o que levou à humilhação da Alemanha em Versalhes. Face aos novos desafios globais a Europa que se julga aristocrática e iluminada pelos deuses fecha-se nos salões do seu palácio. É por isso que nem a Europa política nem o euro conseguem merecer respeito. Porque esta já não é uma Europa das nações. É um condomínio fechado de alguns pretensos reis com ideias arruinadas.»
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