José Pacheco Pereira no Público de hoje:
«Macron e Le Pen passam à segunda volta com uma diferença mínima, ambos acima dos vinte por cento. Pelo caminho ficam, pesadamente derrotados, os socialistas e os gaulistas. O candidato da esquerda radical teve praticamente os mesmos votos que Fillon, o gaulista. Tudo isto era mais ou menos previsível, mas é no seu conjunto uma mudança importante na política francesa, tanto mais importante quanto vai no sentido de mudanças idênticas noutros países como a Holanda. (…)
Macron, que tudo indica vai ser o próximo presidente da França, é o retrato do medo dos franceses, o candidato que não é carne nem peixe, e por isso mesmo o único obstáculo a Marine Le Pen. Verdade seja que Le Pen deve meter medo, muito medo, mas mesmo perdendo, ganha. O que é preocupante, não é o facto dos candidatos da Frente Nacional, Le Pen, pai e a filha, nunca ganharem na segunda volta das presidenciais, é que reforçam significativamente a sua posição. Hoje a Frente Nacional é o primeiro partido francês, e a sua candidatura presidencial tem um partido por trás, enquanto que a de Macron não tem. (…)
A novidade da actual situação geoestratégica torna por isso as eleições francesas não só relevantes para a Europa, quer a geográfica, quer a institucional, mas também para o mundo. E a situação é tanto mais nova, quanto uma candidata da extrema-direita como Le Pen, vai ao Kremlin, sem temer pela sua reputação anticomunista que, quer se queira quer não, ainda está associada à Rússia e a Putin. E Trump, um Presidente da democracia americana, não tem pejo de apoiar a mais proeminente representante na política europeia do radicalismo de direita que seria pestífera para qualquer outro Presidente americano.
Le Pen é, como Trump, a face da mudança nas actuais eleições presidenciais e tem votos só por isso, pelo cansaço enorme do eleitorado em relação aos partidos tradicionais. Vai ser ela a ter o voto de protesto, que hoje a esquerda europeia parece incapaz de conseguir, pela combinação da decadência dos partidos socialistas, com o acantonamento da esquerda mais radical, embora esta tenha em França um candidato que sobrevive mais do que os socialistas à hecatombe da esquerda.»
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