3.4.17

Que democracia? Que capitalismo?



«O Estado de Bem-Estar nasceu em 1945 depois do "crash" de 1929 e da II Guerra Mundial e faleceu com o dilúvio financeiro do início desta década.

A própria ligação da democracia ao capitalismo está hoje seriamente chamuscada e por isso as reflexões de Paulo Portas, feitas há dias, merecem ser ponderadas. O populismo florescente é o resultado de um enorme falhanço económico que acabou com esse contrato social que foi o sustentáculo das democracias europeias e dos EUA. E o neoliberalismo e a globalização, tal como foi desenhada, estão em retirada. Pior: apesar dos métodos paliativos, a futura robotização (acelerada) vai continuar a destruir a classe média nos Estados ocidentais, contribuindo (a par da crise da emigração e da busca de identidade por parte dos povos) para uma sensação de insegurança latente. (…)

No centro de tudo isto está a relação da democracia com o capitalismo, cada vez mais frágil. A destruição da oposição pelo neoliberalismo capitalista criou um deserto de ideias alternativas. E as sociedades, sem isso, entram em combustão rápida. A exclusão de largos sectores da sociedade da riqueza e da segurança está a criar os focos de instabilidade. Não deixa de ser interessante que tudo isto está a criar uma democracia "low cost", semelhante ao consumo: cada vez se compram produtos piores a um preço mais baixo. (…)

Vivemos tempos de fronteira: que Europa queremos, que mundo desejamos? Basta olhar para a ideologia reinante na Casa Branca para se perceber que a sensatez desapareceu dos neurónios de quem aparentemente manda. São tempos que parecem, na pior das hipóteses, temer o regresso de uma "idade das trevas", onde poderes fortes vão florescer e elites com pouca ligação ao mundo real voltarão a dominar o conhecimento e o sucesso. Tudo na história foi sempre imprevisível. Resta saber se o poderá voltar a ser.»

Fernando Sobral

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