22.5.17

Alien, o passageiro perdido



«A saga de Alien, o 8.º passageiro, o monstro que, com o seu poder de destruição, arrasa a tripulação da nave "Nostromo", tornou-se um clássico.

Porque, à luz do futuro, permitia-nos ler o passado e o presente dos seres humanos. Mas, tal como o seu criador, o realizador, Ridley Scott, Alien está perdido neste mundo, porque já não consegue imaginar o futuro. É o que se vê no novo "Alien Covenant", parábola do presente, onde David, um robô, se vai humanizando e conclui que a própria humanidade é um erro. Os colonos que viajam numa nave para um planeta onde poderão recomeçar a vida, de acordo com o que pensa David, não têm direito a isso, porque se os humanos já destruíram a Terra, para que é que querem outro planeta para fazer o mesmo? O que é mais assustador neste novo Alien é que ele nos coloca defronte do espelho e nos força a questionar-nos. Numa Terra danificada em termos ambientais, económicos, políticos, culturais e morais, estamos incapazes de imaginar um futuro qualquer. Já não há utopia: há pura distopia. Um vazio que se vai preenchendo com autoritarismos, vias únicas, gritos de que "não há alternativa".

Olhamos à volta e vemos Donald Trump ou Michel Temer ou Nicolás Maduro ou Kim Jong-un e tantos outros. E reparamos na falta de utopia que cria figuras como Emmanuel Macron. O problema é que esta hegemonia da distopia tem que ver com a desagregação de uma forma de fazer política, onde do alto de uma pirâmide não se vê, ou não se quer ver, o que se passa efectivamente nestas sociedades onde o trabalho vai escasseando e vai desaparecendo a interacção entre os cidadãos. David Byrne, o notável músico americano que criou os Talking Heads, escreveu há dias um texto notável sobre o tema, mostrando que talvez exista uma agenda escondida para destruir a essência da política e da democracia. Trump, o criador de conflitos, é 8.º passageiro desta história. Porque é o diálogo entre todos nós que se está a tentar fazer desaparecer.»

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