«O trabalho e o emprego tal como o viram gerações passadas desapareceu. Fruto da tecnologia, da globalização, das chamadas "reformas" e de conceitos ideológicos que criaram esta lógica de pretensa liberdade de escolha de cada indivíduo.
Tudo isto tem contribuído para o fim anunciado do Estado social e dos sistemas de pensões como os conhecemos desde o pós-guerra. Não há sociedades imutáveis. E deixou de haver empregos para toda a vida. As altas taxas de desemprego vão continuar ligadas a um nivelamento por baixo de rendimentos. Tudo isso também coloca em causa a sociedade de consumo como a conhecemos. Por isso resulta quase patético ver como políticos com responsabilidades vão continuando a não enfrentar este problema com seriedade. (…)
Será possível criar empregos em actividades paralelas que correspondam aos que se vão perder com a robotização de muitas profissões na área industrial e de serviços? E como se garantirá rendimentos decentes para quem não vai conseguir ter trabalho? (…)
Toda a lógica de empregos de que Donald Trump fala parece ser uma redundância. Estamos a viver tempos muito estranhos e no campo do trabalho eles parecem ainda menos transparentes. Seja como for todos temos a certeza que o valor do trabalho dissolveu-se e que hoje, sobretudo nas zonas periféricas (como Portugal), as "reformas" conduziram o contrato social que assentava numa relação estável entre empregadores e empregados a um beco com poucas saídas. E onde o Estado está carenciado de respostas e de meios para fazer face a estes novos desafios. Que merecem ser discutidos com seriedade.»
Fernando Sobral
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