«A tartaruga poderia ser o símbolo perfeito de Portugal. Da sua lentidão para concretizar qualquer sonho ou para resolver qualquer desafio. Entre os prós e os contras de cada opção, o país coloca uma venda nos olhos como a justiça e tenta equilibrar os benefícios e danos.
O resultado é a ausência de decisões. A reforma da floresta é, ela própria, o palco mais óbvio deste desencontro com o calendário veloz dos tempos recentes. (…) O fogo será vencido pelos tempos frescos e porque já há pouco para arder. Este é o tempo de se cortar a direito, doa a quem doer. Porque num país como este, que tem pouco mais do que a sua beleza natural como recurso estratégico, deixar desaparecer o seu ambiente é um crime.
Falta alguma coisa para que se enterrem machados de guerra e interesses políticos, ou cumplicidades económicas, e se faça um consenso nacional sobre a floresta, sobretudo num país onde o Estado tem um peso insignificante na sua propriedade? Um dia destes não há país verde. Haverá um imenso deserto. O que está a acontecer afecta os próximos 10, 20 ou 30 anos. Com a ameaça, cada vez mais real, da desertificação do país, ficar sem floresta (e a sua riqueza de fauna e flora) é um tiro na própria testa.(…)
Vivemos tempos de extremos. E este pequeno país à beira-mar especado tem de aprender a preservar aquilo que tem de mais rico: o seu ambiente e as suas gentes. É isso que, nestas décadas, não foi feito. Por ignorância, ganância e desprendimento. Por falta de cultura das elites que mandam. Quando acabar este tempo de incêndios e se olhar para um país mais cinzento, com menos pessoas no interior, menos árvores, menos pássaros e animais selvagens, menos diversidade e menos beleza, se perceberá melhor o que se perdeu. E, agora, só se trava o deserto ou ele transformará Portugal num Sahara com prédios com ar condicionado pelo meio.»
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