24.8.17

O sonho da razão



«Os Estados Unidos da América são a ilustração actual da gravura de Goya "os sonhos da razão engendram monstros". A sociedade que ocupa o lugar de centro hegemónico do mundo moderno evoluiu para o estado de sociedade dividida, onde as racionalizações de grupos sociais nostálgicos de uma estrutura de ordem do passado, onde a população branca tinha a supremacia incontestada, se opõem às posições dos grupos sociais orientados para a construção do futuro, em que a população branca será minoritária e em que a referência dos que têm capacidade competitiva já não será nem a identidade rácica, nem a dimensão nacional, mas já é a competência e a escala global - e nem a raça, nem o nacionalismo, respondem às questões colocadas pela competência e pela escala. As sociedades divididas são politicamente polarizadas, configuradas em relações de confronto e de intolerância em relação aos outros, mas o ambiente de guerra civil que assim se estabelece é estéril: mesmo que enveredassem pela guerra civil, o vencedor seria o derrotado porque os Estados Unidos perderiam a sua posição dominante no mundo - depois de terem destruído as condições do desenvolvimento e do progresso.

As sociedades divididas não conseguem decidir, as sociedades politicamente polarizadas não conseguem estabelecer uma estratégia. As sociedades divididas e politicamente polarizadas são sociedades com medo, porque não aceitam o que o futuro lhes mostra e refugiam-se na nostalgia do passado como um sonho da razão.

Donald Trump é o produto do sonho da razão. Ele foi engendrado por uma sociedade dividida, estimula a polarização política e alimenta o medo que paralisa agora a sociedade americana. Mas é ele que, depois de eleito, continua fixado naqueles que venceu, precisando de os invocar para partilhar a responsabilidade pelo que acontece. É pelo sonho da razão que o poder apodrece, deixando-nos com os monstros instalados no poder.»

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