23.8.17

Que consenso nacional?



«A única moeda que Groucho Marx usava para a troca era o riso. Todos gostam de fazer acordos comerciais com ela. O marxismo, segundo Groucho, era a provocação e a insolência. Por isso o seu capital eram as palavras.

Por exemplo: "Estes são os meus princípios, e se não gostarem deles, tenho outros". Este era puro marxismo político, que ainda hoje pode ser utilizado para se entender o labirinto partidário nacional. Seja na sua versão séria, seja na sua parte de "stand-up comedy" ou mesmo de "discurso estilo-selfie". Basta ver a reacção do PSD à entrevista de António Costa ao "Expresso". Depois de dois anos a amansar os cérebros de Bruxelas que desejavam fazer à chamada "geringonça" o que os dragões de Daenerys Targaryen fazem aos inimigos, Costa vira-se para o futuro. Quer, no fundo, um pacto de regime ao centro para os próximos anos. E acenou ao PSD com toucinho. É claro que Costa sabe que Pedro Passos Coelho não pode aceitar acordo nenhum plano estratégico para o país. Se fosse necessário um exemplo, bastava Hugo Soares, versão Harpo Marx, que usa buzinas em vez de frases para se expressar. Quando ele diz que "a periodização das obras públicas como factor de competitividade do país é algo que deixa o PSD manifestamente preocupado", é algo que não nos pode deixar perplexos. A inanidade política é isto.

Só com outra liderança o PSD poderia discutir um modelo de país. Porque o diálogo nasce sempre a partir do cálculo das forças em presença. Quando se sabe que não existe força suficiente para se impor uma versão da realidade, o que é que anima os adversários ao diálogo? O diálogo existe quando há consciência da responsabilidade geracional e histórica. Aqui não existe isso. Veja-se: não há qualquer hipótese de consenso sobre o modelo económico, sobre o modelo ecológico ou empresarial da nossa floresta, sobre o modelo de saúde ou de ensino (para já não falar de um modelo cultural). O PSD fala de "falta de estratégia" porque o Diabo económico preferiu ficar de férias em Biarritz. De resto não sobra mais nada.»

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