«Foram três horas e meia de debate sobre a Moção de Censura de Cristas na Assembleia da República. Foi uma Moção à antiga portuguesa. Penso que o nosso PR gostou. Aliás, a seguir ao chumbo da Moção, o Presidente Marcelo apareceu e disse que achava que a democracia tinha funcionado. Ufa! A democracia funcionou, que alívio, senhor Presidente. Imagina se não tem funcionado? Estava tão nervoso, só de imaginar ver as tropas na rua com o material de Tancos todo sujo de terra. Por acaso, estava com medo que não funcionasse aquando da votação da Moção de Censura, porque o computador da, agora deputada, Constança Urbano de Sousa não ia funcionar e iriam ter de repetir a votação, infinitamente.
Esta era uma Moção de Censura estranha porque acabava por censurar a própria autora. O ponto de partida, os incêndios, as mortes e a ausência de Estado são uma espécie de Crime no Expresso do Oriente. Há o que deu a última facada, mas de ambos os lados, da oposição e actual Governo, todos são culpados. Uma Moção de Censura com este epicentro, se derrubasse o Governo, também devia derrubar Cristas.
Alguns chamaram-lhe Moção de Emoção, feita mais com o coração do que com razão. Outros, Moção de Abutres, com o aproveitamento político de uma tragédia. Eu acho que é uma mistura das duas. Uma coisa típica da Cristas. Só estranhei não ser a Ágata a cantar a Moção. Acho que é injusto acusar a presidente do CDS de aproveitamento político da tragédia dos incêndios, penso que terá, apenas, aproveitado a felicidade de já não haver Passos Coelho. Acabou por ser um debate confuso porque o CDS passou mais tempo a tentar justificar-se do que a pedir justificações ao Governo. A certa altura, dava a sensação de que o CDS estava a tentar convencer-se de que a Moção tinha sido uma boa ideia. Vi a líder do CDS dizer que Costa "tratava assuntos sérios com muita ligeireza". Ou seja, como quem diz, vou sair da praia e assinar o BES de cruz.
Neste assunto, acho que houve aproveitamento político dos três lados do triângulo da geringonça: PR-PS-Oposição (CDS-PSD) e uma espécie de súbito desaparecimento político do BE e PCP. Dos beijos do PR com pouco recato, às cantigas de amigo de Costa e cartas de desamor da ex-ministra, passando pelo tom angelical Miss Eucalipto e acabando com Montenegro a falar de um PM insensível, cada um aproveitou o que podia.
Para terminar, alguns comentadores de direita disseram que o objectivo da Moção não era fazer o Governo cair. Claro. Basta ver as sondagens. Além do mais, provocar eleições nesta altura seria contraproducente, só o que se gastaria em boletins de votos..., lá iam umas centenas de árvores.»
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