10.10.17

Rui Rio e Tintin



«Charles de Gaulle, o Presidente que refundou a República francesa, disse um dia que o seu único grande rival era Tintin. Rui Rio, que decidiu finalmente atravessar o Rubicão, não parece preocupado com o fantasma de Tintin.

Os rivais vão-se evaporando defronte dos seus olhos como se ele fosse um Terminator indestrutível. Tendo à sua volta um deserto de opositores, Rui não precisa de criar ideias. Basta-lhe pedir que os militantes do PSD ergam o braço. É triste, mas às vezes um partido está de tal maneira paralisado que por ali pode irromper quem, até hoje, nunca mostrou um conjunto de ideias estruturadas além de uns laivos ideológicos muito duvidosos (um conservadorismo irritante, um desdém pela cultura) quando esteve na Câmara Municipal do Porto. Fora isso tem dito alguns lugares-comuns que parecem uma colecção de "tweets". Mas contra este vazio (que poderá alterar-se, porque já se viu tudo na política nacional) o que sobra? Pedro Santana Lopes poderá surgir, mas será essa uma atitude sensata de quem tem agora mais poder do que se estivesse à frente do PSD? Face à debandada dos barões, que acham que Rio será um líder para ir queimando em lume brando antes da verdadeira batalha, o antigo autarca do Porto não terá de ficar atormentado por um qualquer Tintin.

Este é o reflexo de um passado típico dos principais partidos nacionais. Por vezes alguns barões ou simples soldados, acordam estremunhados e pensam que é altura de renovar a imagem do partido. Não querem trazer novas ideias. Desejam, simplesmente, mudar de líder. O PSD, agora que está na oposição, faz da viuvez uma opção de vida: está sempre à procura de um novo galã. O PSD é, por vezes, um partido de predadores equivocados: na falta de se alimentarem do partido do poder, entretêm-se a devorar todos os líderes que aceitam o cargo de chefiar a sua tribo. Rui Rio poderá ser aclamado, mas depois será entendido como um fiambre apetecível se não ganhar as eleições. O equívoco está aí: o PSD precisa de um projecto animador de futuro. E não apenas de um novo líder.»

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