«Pode não restar quase nada da independência catalã (mas resta), mas o que se viu na Espanha e na Europa isso fica certamente e deveria preocupar todos os democratas. Em Espanha veio ao de cima um "espanholismo" de claras raízes franquistas e falangistas, como aliás sempre foi. Um partido como o socialista vai mais uma vez pagar caro o papel que teve, e que de há muito sempre tem tido na recente vida política espanhola. E o Podemos, idem. Se alguém ganhar uma vitória de Pirro na Catalunha, será sempre o PP.
Mas pior ainda, porque mostra uma fragilidade que mesmo a mim, que sou demasiado céptico, me espantou, foi ver o comportamento dos órgãos de comunicação espanhóis, e não me refiro apenas à estatal TVE – que como todos os órgãos do Estado quando chega aos momentos decisivos se comportam como a voz do dono –, mas de jornais como o El País. Já fiz esta comparação e repito -a: pareciam a Fox News, com o seu tom de comício permanente, com o silenciamento de tudo o que podia causar problemas ao discurso oficial, com mesas de debate sem qualquer pluralismo do género "mata e esfola", absorvendo como sua a linguagem do poder.
E o que é que se está a passar na Europa, cada vez mais autoritária, mais próxima dos Governos do que dos povos, com um discurso cego para o problema de que, ache-se bem ou não, uma parte importante da sociedade catalã quer a independência, num processo que tem sido pacífico e com suficiente legitimidade democrática para obrigar a ter outra moderação. Foi a Europa que como um mastim se voltou contra os gregos que agora se volta com a mesma intransigência contra os catalães. Não me engano certamente se considerar que, mesmo no contexto do Brexit, muita gente está a pressionar o Reino Unido para não repetir o voto pela independência da Escócia.»
José Pacheco Pereira
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