«Já há muito tempo que falo sobre o contínuo política-media, uma realidade já com vários anos, em que não se pode analisar a acção política sem incluir a sua componente mediática e comunicacional. Mas agora, na empobrecida política nacional, com actores muito medíocres, que vivem nas chamadas "redes sociais", começa a haver apenas uma agenda mediática na política, com total dependência das regras mediáticas e do contínuo passa-se à dependência.
Já repararam que cada vez menos a política produz política? Ou seja, são cada vez menos actos e actores políticos que geram controvérsia ou debate ou novidade ou atenção, a não ser pela mediação da comunicação social. É o que a comunicação decide colocar na agenda, seja importante ou trivial, que move politicamente partidos, políticos, o parlamento, o Governo e o Presidente da República e que dá amplitude às questões. Isso significa que o aspecto anedótico dos "casos" se sobrepõe a questões estruturais, e o efeito perverso é que, ao ser assim, ficam dependentes do ciclo de atenção dos media, que é como sabemos muito curto. Ou, se não é muito curto é artificialmente empolado, quando o assunto pode ganhar em ser tratado de forma populista ou tablóide, como foi o caso da Raríssimas ou das "adopções" da IURD. À falta de produtos próprios, ou seja de políticas próprias, os políticos acabam por ser porta-vozes do tabloidismo nacional e, mesmo que haja no meio deste lodo matérias genuinamente relevantes, o modo como são tratadas retira-lhe significado político, acentuando apenas o aspecto casuístico.»
José Pacheco Pereira
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