12.2.18

12.02.1929 – Dia de recordar Nuno Bragança



O Nuno morreu com 56 anos, faria hoje 89 e apeteceu-me voltar a ouvir um notável documentário que a RTP tem online, com curtos extractos de uma entrevista e, sobretudo, com depoimentos de um conjunto de pessoas, que o conheceu bem: Pedro Tamen, Maria Velho da Costa (depoimento interessantíssimo do ponto de vista literário), António Alçada Baptista, Nuno Teotónio Pereira, Carlos Antunes, Maria Belo e Fernando Lopes – mais de metade já desaparecidos.

Mas retomo também as minhas recordações pessoais, ainda bem vivas. De uma colheita anterior à minha, foi sempre reconhecido por todos como absolutamente excepcional, mesmo antes, bem antes, de A Noite e o Riso por aí aparecer com estrondo.

Errando pelos mesmos meios oposicionistas, os destinos juntaram-nos também em casa de amigos comuns, onde passámos longas semanas de férias – nos tais anos sessenta que por cá também foram loucos embora só para minorias, em plena Serra da Arrábida, sem electricidade e quando um gira-discos a pilhas, vindo da América, fez figura do mais sofisticado robô. Um pouco mais tarde, viria a acampar, no sentido estrito da palavra, no minúsculo apartamento em que o Nuno viveu vários anos em Paris. E confirmo o que a lenda conta: saía de casa por volta das cinco da manhã, para escrever durante algumas horas antes de iniciar mais um dia de trabalho.

Para a História ficou sobretudo o escritor e o excelente documentário U Omãi Qe Dava Pulus, de João Pinto Nogueira. Eu registo também o católico resistente, boémio e espartano, fundador de O Tempo e o Modo, membro do MAR (Movimento de Acção Revolucionária), colaborador das Brigadas Revolucionárias, o conspirador por feitio e por excelência – neste caso, não tanto A Noite e o Riso, antes Directa e Square Tolstoi.

Reencontrei há algum tempo uma velha fotografia, de um jantar colectivo, onde fiquei sentada em frente do Nuno. Bem mais de metade dos que lá estavam já se foram embora e não me apetece mostrá-los. Mas devo-lhes muito do que hoje sou. Muito, mesmo.
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2 comments:

Niet disse...

Tem toda a razäo, cara Joana: Nuno Braganca , para mim o da Directa, sobretudo- é um dos maiores e mais fascinantes dos escritores portugueses do séc. XX. A sua diferenca e classe prodigiosa, com uma adicional e hiper-controlada escrita anti-prolixa, heminguvayana e sintonizada com a tecnica da faccäo mais politizada da galáxia Sartre, com Leiris e Paul Nizan, é unica e sem paralelo na nossa republicazinha das artes e letras. Uma vez vi Nuno de Braganca com a Maria Cabral em Paris, sentados na relva da Cité Universitária em Paris: a intensidade e o glamour da cena apontava para a apóstrofe de Dante- " aqui, é preciso voar com as asas e as penas rapidas do grande desejo! ".Niet

Monteiro disse...

Foi muito bom. Li a Noite e o Riso em 1970 em Bissau e foi um dos livros que sempre me acompanharam. Obrigado Joana Lopes, de vez em quando lembra-se de coisas bem interessantes.