«Alguém chamou "partidos Kodak" a muitos dos partidos que marcaram durante décadas a vida política da sociedade ocidental. Havia uma razão não fotográfica para isso: a marca que George Eastman fundou em 1888 dominou durante gerações o mundo da fotografia. A revolução digital levou ao colapso da empresa do dia para a noite. O PSD não se defronta com um "momento Kodak". Mas, ao aclamar Rui Rio como novo líder, o PSD não deixou de mostrar sinais de nervosismo: à porta já está Luís Montenegro, antecipando-se em versão Speedy Gonzalez a toda a concorrência interna (incluindo Passos Coelho), para lhe suceder. E isso acontecerá se, em 2019, o PSD não voltar ao poder. Seja como vencedor das eleições ou coligado num bloco central ou com o CDS. Rui Rio venceu, mas tem um quarto com vista para a guilhotina. E ele sabe isso. Talvez por isso o seu discurso de encerramento do Congresso do PSD tenha sido tão abstracto: na ausência de propostas políticas concretas, Rui Rio apelou à fé. É certo que o novo líder falou das questões sociais (um tema tabu no tempo de Passos Coelho), de acordos de regime, de vontade de vencer. Mas tudo pareceu ser ainda muito genérico.
O PSD, para regressar ao poder, neste tempo de bonança económica que favorece o Governo, precisa de ter um projecto com propostas sólidas e não generalidades com que todos podem concordar, porque são demasiado vagas. Precisa de abrir as janelas à sociedade civil (como soube fazer o CDS sob a batuta de Paulo Portas, antes de este rumar ao mundo dos negócios). Precisa de deixar de ser um partido apenas delimitado pelos seus políticos de carreira. Precisa de falar concretamente de outros temas que continuam a não ser considerados importantes: ambiente, cultura, segurança, património. Rui Rio, ao contrário do que se possa pensar, tem o relógio a correr contra si: 2019, com a sua chuva de eleições, é já aí. E esse é o tempo do novo líder neste PSD que necessita de poder como de pão-de-ló.»
Fernando Sobral
.
0 comments:
Enviar um comentário