27.2.18

O prato do regime



«Quando se dirige uma cadeia de restaurantes que vende galinhas é de todo conveniente que estas não faltem. Foi isso, no entanto, que aconteceu à KFC na passada semana na Grã-Bretanha: dois terços dos seus restaurantes fecharam porque não havia galinhas para fazer a sua "fast-food". Os partidos portugueses da órbita do poder também têm o seu "complexo”, estando viciados no prato do poder, não encontram refeições alternativas. Compreende-se que em Portugal os chamados pactos de regime sejam uma espécie de sino que assinala a hora da refeição. Não é por acaso que o que pode começar por aproximar PS e PSD seja o dinheiro dos fundos europeus para a próxima década e a regionalização. E não uma política de ambiente, numa altura em que a seca continuada vai implicar alterações estruturais no território nacional, de cultura, da educação, do financiamento do SNS, ou mesmo de turismo ou modelo económico. Discute-se, em termos de prato do regime, o que pode ser dividido em termos de dinheiro e de poder regional.

Todos sonham com pactos de regime e com consensos deste tipo. Mesmo o PSD, que por estes dias deveria estar mais preocupado em ser uma alternativa clarividente ao Governo e ao PS, sonha com a divisão do prato do regime. É por causa disto que a classe política portuguesa, se fizesse hoje uma "selfie", veria um rosto cansado e resignado. A política não é só "marketing", mas filosofia. É preciso regenerar as emoções na política e não é com estes pretensos pactos de regime, feitos à volta da divisão de migalhas do bolo, que se consegue que os cidadãos voltem a olhar para o regime com atenção. Porque os cidadãos estão a deixar de encontrar respostas. Sabe-se como são estes pactos de regime: quem decide a divisão das cartas, dos dinheiros e dos favores impõe a agenda política. É uma hegemonia que vai degradando a cultura política e social nacional. Mas a fome de galinhas não as deixa entender porque os restaurantes fecham.»

Fernando Sobral
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