14.5.18

A Europa arrasta-se sem destino



«A moral da história de O Rei Vai Nu é que é preciso alguma inocência para ver o que o poder e a bajulação impedem de ver, mesmo quando está à frente dos nossos olhos. Eu não tenho certamente essa inocência, mas parece-me tão evidente que a já longa crise da União Europeia mostra um doente moribundo e mantido em coma numa máquina. A ideia de que Macron, uma personagem que deveria merecer mais exigência na análise, a pode salvar porque não alimenta o antieuropeísmo, que grassa um pouco por todo o lado, é absurda. Macron pode ser o maior dos europeístas, mas esse europeísmo vem no mesmo pacote que enterrou a Europa desde a crise financeira de 2008 e que teve no Eurogrupo sob liderança alemã o seu principal executor. Antes e agora.

A crise da União Europeia não é boa para a maioria dos países europeus, a começar por Portugal, mas é um case study de como a fuga em frente para uma engenharia política de upgrade, não desejada pelos povos, mesmo que muito impulsionada pelos grandes interesses europeus, que são pela sua natureza internacionalistas e estão bem representados na Zona Euro, pode conduzir a um desastre.

Chegar ao coma actual teve muitos factores e algumas peripécias, da falhada Constituição Europeia, ao modo como foi feito o alargamento, dos desastres da política externa franco-britânica com apoio americano na Líbia e na Síria, ao Tratado Orçamental, do colaboracionismo dos partidos socialistas a uma política alemã do euro, ao ultimato à Grécia e ao quase ultimato a Portugal e ao Brexit. Depois vieram os refugiados e mostraram que nem sequer a retórica se mantinha face ao recrudescimento de tudo o que de pior existe na tradição política europeia. E, como diria o menino de O Rei Vai Nu, era tudo tão previsível…»

José Pacheco Pereira
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