«Jules Rimet, o criador do Campeonato do Mundo de Futebol, acreditava que esta competição era "um excelente meio para dissipar entre os países as antipatias e as incompreensões". O futebol era a paz. A acreditar no que se viu em Alcochete, em Portugal o futebol é a guerra. Ou antes, em Alcochete assistiu-se, até ver, à "blitzkrieg" do futebol nacional contra o mais improvável dos inimigos: ele próprio.
Já se tinha visto que o pontapé na bola indígena tinha entrado numa fase de autofagia: o ódio destilado pelos directores de "comunicação" dos clubes e pelos papagaios que quase todos os dias da semana se insultam na televisão em nome dos seus clubes haveria de conduzir a uma qualquer tragédia. Tudo em nome de um tribalismo sem ética ou moral. E de um populismo radical que Bruno de Carvalho transformou num discurso aparentemente normal, porque todos o aceitavam. Porque fazia de "maluco" nas suas próprias palavras. Isto perante a passividade da FPF, da Liga de Clubes e do Estado. Foi assim que foi chocando o ovo da serpente: o ódio pelo ódio, a guerra gratuita, sem razão e sem causa. Não é uma questão de um clube, é de uma cultura futebolística que se semeou em Portugal. Os espinhos dessas flores arranham. E fazem sangrar.
Quando se tem um presidente de um clube, depois de uma barbárie que foi alimentada dia após dia por irresponsáveis, a dizer que "temos de nos habituar. Isto faz parte do dia-a-dia. O crime faz parte do dia-a-dia", o que se espera para actuar sem clemência? A começar pelos órgãos sociais que sustentam um presidente assim, e que por certo não se vêem ao espelho e não têm insónias.
A pirotecnia radical é simplista. Mas foi ela que, aparentemente, permitiu um "perdão bancário" de 90 milhões de euros. Deveria haver mais do que uma bola de futebol na cabeça de quem tem poder no futebol português. De deputados a dirigentes profissionais que dizem que esta é uma indústria e a deixam comportar-se como uma mercearia reles. Há quem queira matar o futebol em Portugal. Está a consegui-lo.»
Fernando Sobral
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