«No passado mês de Maio, uma simpática vaca búlgara, de nome Penka, decidiu abandonar o seu país natal, mas também a União Europeia. Por razões desconhecidas entrou em território da Sérvia.
Recolhida, foi devolvida aos seus proprietários. Mas aí começaram os problemas. As autoridades sanitárias búlgaras, considerando que Penka tinha ido dormir a um país alheio à UE, julgaram que ela tinha sido "importada", quando regressara à Bulgária, e deixara de ter as autorizações sanitárias necessárias. Veredicto cruel: Penka deveria ser abatida. O seu proprietário decidiu lutar e Penka tornou-se um símbolo nacional, mostrando o grande absurdo que é parte da legislação europeia, cega e surda. Em Portugal, sentiu-se isso na pele quando, por exemplo, se destruíram formas de produção tradicional de queijos, doces ou enchidos, porque não estavam consoante a "legislação europeia". A Europa de Bruxelas e da legislação que aplica as mesmas regras a países e culturas diferentes é um dos maiores atentados à soberania. Tal como foi aplicar receitas iguais, em forma de austeridade, a países e situações diferentes. Só para salvar os países do centro da crise de 2010.
A retirada, até ao fim do ano, do programa de compra de activos por parte do BCE, é uma nova versão da célebre canção dos ABBA: "Money, Money, Money/Must be funny/In the rich man's world." Num clima de incerteza, até perante a guerra comercial com os EUA, retirar o tapete aos países do Sul da Europa pode ter consequências imprevisíveis. Como reagirá Itália, cada vez mais eurocéptica, se isso afectar a sua já gritante dívida externa e uma economia periclitante? Itália responderá cada vez mais numa lógica de Aquarius: a Europa atira-nos com problemas e não nos traz soluções. Imagine-se que Itália, seguindo as pisadas da vaca Penka, decide ignorar as regras orçamentais dos célebres 3% de défice? O que fará Bruxelas? A UE continua firme a ler um ensaio sobre a cegueira. Feito num Excel.»
Fernando Sobral
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