1.6.18

Na Batalha sem luta



«Ocorreu, no passado fim-de-semana, na Batalha, distrito de Leiria, o 22.º Congresso Nacional do PS. Foi um congresso com muita saudade de Mário Soares e muito aliviado com a ausência de Sócrates.

Apesar de tudo, Sócrates foi muito aplaudido quando a sua imagem surgiu no ecrã panorâmico que enchia o palco da ExpoSalão da Batalha. Mas apenas porque a foto estava muito boa e tinha sido tirada por António Costa aquando da visita ao estabelecimento prisional de Évora.

Podemos dizer que foi um congresso com todos felizes na mesma casa, apenas com uma ligeira discussão sobre o posicionamento da mobília. Mais para a esquerda, mais para o centro. É a eterna discussão sobre se o Partido Socialista é mesmo socialista ou se é só uma alcunha. Se o congresso fosse um ringue de boxe, no canto esquerdo estaria o secretário de Estado Pedro Nuno Santos, no canto direito estaria o ministro dos Negócios Estrangeiros, Santos Silva, e felizmente não estariam presentes os filhos do antigo embaixador do Iraque em Portugal.

António Costa pediu que este fosse um congresso a olhar para o futuro e, a dada altura, o congresso começou a olhar tanto para o futuro que pareceu que já se começavam a posicionar candidatos à sucessão de António Costa. De repente, Pedro Nuno Santos, Fernando Medina e Ana Catarina Mendes pareceram estar a querer candidatar-se ao lugar de Costa.

António Costa, por momentos, sentiu o que sente Bruno de Carvalho e, talvez picado, recorreu à ironia para deixar claro que as notícias sobre a sua sucessão eram manifestamente exageradas, e disse: "Ainda não estou a pensar em meter os papéis para a reforma." Mesmo que estivesse a pensar nisso, não haveria de ser um problema, já tivemos um Presidente da República que recebia reforma em vez de ordenado, não seria um problema ter um PM reformado.

Durante o congresso, António Costa nunca falou em maiorias absolutas, o secretário-geral do PS assumiu apenas um objectivo, o de "ganhar", lembrou que o PS só conseguiu uma vez, em 2005, com José Sócrates, uma maioria absoluta. De certa forma, depois de Sócrates, o PS tem medo de si próprio. Se fosse preciso ir mais longe, bastava ouvir o discurso de Manuel Alegre, que alertou para o perigo das maiorias e o pavor da atracção pelo centrão que o partido pode sentir.

É como se o PS fosse um daqueles indivíduos que sabe que, se for sair à noite sozinho, vai acabar por apanhar uma grande bebedeira. Por isso, de agora em diante, decidiu que leva um amigo que já o conhece e sabe convencê-lo a ir para casa antes que fique bêbedo e faça asneira. É imaginar a Catarina Martins a dizer a Costa: "Já chega, atina, já estás a descair para a direita e a mandar piropos às miúdas. Vamos para casa."»

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