11.6.18

O mistério Rui Rio



«Cersei Lannister, que sempre soube como um político deve actuar na grande roleta russa do poder, disse-nos: "Quando se joga ao jogo dos tronos só se pode ganhar ou morrer. Não há pontos intermédios." A rainha dos Sete Reinos de Westeros sabia tudo sobre a moralidade e a imoralidade do poder e da ambição para o conquistar. Não sendo um novato nos labirintos do poder, Rui Rio pareceu, no início da sua liderança, um político que negava o movimento. Parecia que se contentava em ocupar o espaço. E que a melhor opção em termos de decisões seria ou não tomar nenhuma ou tomar alguma que irritasse os baronetes do partido. O seu destino trágico parecia traçado, contra a rebeldia do grupo parlamentar e decisões muito discutíveis. Sobretudo, o seu programa parecia um deserto sem oásis. Só que, como recorda Cersei, para se alcançar o poder há que arriscar: ou se ganha ou se morre em batalha. Ora, Rui Rio parece avesso a batalhas decisivas: não é um general que busque o seu Waterloo.

As decisões de Rui Rio de escolher, para líder parlamentar, um Fernando Negrão que passa a vida a olhar para o seu caderninho de notas, ou de pugnar por "pactos de regime", seguem esta estratégia de comboio dos torresmos: pára em todos os apeadeiros. Rio não deseja rupturas rápidas: prefere que o PS se desentenda com o BE e com o PCP para surgir como a Bela Adormecida desejada. Assim o poder cair-lhe-á nas mãos, seja numa coligação com o PS, seja porque, por milagre, ganhe as eleições. O certo é que conseguiu, com esta política de falinhas mansas, conter Assunção Cristas, que nas sondagens não surge como uma leoa. Rui Rio acredita que o PSD precisa de ultrapassar o legado de Passos Coelho, que surgiu como "um bom gestor da economia", mas um coração insensível face aos resultados das suas opções. Rui Rio quer atrair o PS para um novo contrato social ao centro, ao mesmo tempo que, com isso, deseja travar o avanço de populismos à direita (e à esquerda). Será essa a sua forma de ganhar?»

Fernando Sobral
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