6.9.18

Nós sem os outros



«Para os que confiaram na dialéctica da História e nos mitos do progresso eterno, o ressurgimento do nacionalismo na Europa do século XXI é uma oportunidade para fazerem um curso rápido de actualização de conhecimentos. Podem começar com Camões, que disse que todo o mundo é feito de mudança, mas acrescentou que o que mais espanta é quando já não se muda como era habitual - isto é, não se muda como se esperava que mudasse. E poderão depois continuar a sua actualização evoluindo (e mudando) até chegarem à análise multifactorial, em que a interpretação dos acontecimentos se atinge considerando um sistema de factores que se interrelacionam, não havendo uma explicação simples sustentada numa causalidade directa que explique fenómenos complexos (como também não haverá uma solução simples e única que resolva dinâmicas alimentadas por correntes de origens múltiplas).

Depois desta actualização de conhecimentos, o ressurgimento do nacionalismo na Europa não justifica a surpresa, ele aparece por razões idênticas e com formas semelhantes às que já mostrou no passado e conduzirá às mesmas consequências insustentáveis que já evidenciou no passado. Porque o nacionalismo pretende responder a um problema real (o medo e a insegurança das populações confrontadas com a mudança que ameaça os seus modos de vida habituais) com uma solução errada (o isolacionismo e o proteccionismo nacional-populista não interrompe o processo de mudança e deixa essas populações condenadas à força das coisas, que lhes será imposta pelos que se adaptaram às novas condições e usaram a força da mudança para conquistarem posições de dominação).

"Nós sem os outros" implicaria um contexto de sociedade fechada, no qual a luta distributiva se desenvolveria em função de um produto a diminuir de ano para ano, sem poder recorrer aos mercados financeiros externos para financiar novas actividades ou para assegurar os recursos necessários ao financiamento das rubricas do orçamento que concretizam as políticas públicas. "Nós sem os outros" significaria a escolha voluntária da austeridade permanente.» 

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