«Portugal ainda hoje vive fascinado pelo Milagre das Rosas. Ninguém esquece quando a rainha Isabel transformou pães em rosas.
Menos prendado, numa entrevista ao Expresso, Fernando Medina tirou do regaço um milagre pós-moderno: propôs a redução radical do preço dos passes sociais na região da Grande Lisboa. Comparado com isso, o maná dos céus é um milagre muito menos possível. A ideia, como se imagina, abriu uma caixa de Pandora: o Porto já começou a pensar na mesma coisa e o ministro do Ambiente já pensa alargar o milagre de Medina a todo o país. Ninguém estará contra este milagre da multiplicação de passes baratos, a começar pelos cidadãos. Porque apostar no transporte público faz parte de uma sensata política ambiental e de utilização de recursos disponíveis. Mas, com a proposta, Medina aparece, com luvas de pelica, como o génio da lâmpada, pronto a garantir luz ao PS quando António Costa se reformar do cargo de primeiro-ministro.
A questão, claro, é outra. Ao propor preços populares para os passes sociais Medina transfere a discussão do colapso dos serviços públicos de transportes para o preço. É um golpe de génio. Em vez de se discutir a inexistência dos comboios da CP, o colapso do Metropolitano de Lisboa ou o eclipse de transportes céleres e normais no interior do país, Portugal vai discutir o preço. Ninguém deixará de pedir preços populares para a sua freguesia. O problema é só um: os preços populares servem para quê se os comboios não existirem, os autocarros não aparecerem ou o metro estiver sempre com "problemas técnicos"? Sabe-se que a política gira, às vezes, à volta de um princípio insalubre: a realidade impede-me de cumprir o meu programa eleitoral, dizem alguns líderes. Aqui, o pior é a criação de uma realidade paralela sob a aparência de uma medida compreensível e que agradará a todos os cidadãos. Medina não brinca aos ilusionistas: faz magia perante uma plateia que quer saber se este milagre não faz parte da sua estratégia imobiliária para Lisboa. A única que tem.»
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