21.2.19

Cristas, uma invenção de Costa



«Já muitos partidos apresentaram moções de censura condenadas ao fracasso. Já alguns o fizeram num momento em que a insatisfação popular não era evidente – não confundir um surto de greves táticas, num ano eleitoral em que são sempre mais eficazes, com insatisfação generalizada. Não me recordo se alguma vez foi feito num momento em que, se fosse aprovada, a moção de censura teria um efeito nulo, já que as eleições são este ano. Esta moção de censura não é apenas um nado-morto, é uma inutilidade assumida.

A inutilidade é tão evidente que ninguém assumiu que o alvo de Assunção Cristas era realmente António Costa. Para a geringonça, este até é um bom momento para se mostrar falsamente unida. O objetivo é criar um momento mediático em que, mais uma vez, Cristas se apresente como líder da oposição. Sabendo que Rio não está no Parlamento e que ainda não tem um grupo parlamentar seu, a presidente do CDS está a lutar contra um ausente. Não é difícil vencer um combate em que o opositor não pode entrar no ringue.

Assunção Cristas afirmou, numa entrevista ao Expresso, que dizer que ela é a líder da oposição “é factual”. Olhando para as sondagens, não sei onde está demonstrado desse facto. Rui Rio continua, até ver, a liderar o partido com mais intenções de voto da oposição, o CDS não descolou e Cristas continua a liderar um partido com tantas possibilidades de chefiar um Governo como o PCP e o Bloco. Não passa tudo de uma fantasia. Quem criou esta fantasia? Não foi o CDS, apesar de tentar alimentar-se dela. Nem sequer foi a comunicação social, que se limita a difundir os delírios de Cristas. Foi António Costa. Costa irrita-se com Cristas no Parlamento porque lhe interessa ter um partido com menos de 10% das intenções de voto como líder da oposição. Dar força ao CDS é tirar força ao PSD e encostar a oposição à direita. Tudo o que Costa precisa para ter votos ao centro.

Não é grave que Cristas aproveite a borla que Costa lhe dá e se ponha em cima de um caixote para parecer enorme. Faz parte das regras do jogo. Desde que isso tenha, para quem deve olhar com atenção para a política, a importância relativa que realmente tem. Em suma, a moção de censura do CDS é o que é: um momento de campanha do CDS com a mesma importância real que tem o CDS.»

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