«Soares dos Santos sente como sua missão dar aos pobres o grande privilégio da classe média (só média, mais é demais). Ferraz da Costa não diz se em Portugal os salários são altos ou baixos, mas sabe que para "muitos, até são mais altos do que deviam".
Ambos fizeram uma demonstração notável de humildade, que finalmente trouxe para a praça pública um problema sério que a realidade portuguesa precisa de conhecer: o drama de quem herda fortuna, mártires que lidam com a chaga de ter dinheiro sem o merecerem e, ainda assim, terem de assumir a dura missão de salvar os portugueses.
O sofrimento diário desta elite empresarial, a quem o país tanto deve - o que seria de Portugal sem o jingle do Pingo Doce ou a coudelaria de Ferraz da Costa? -, merece a solidariedade de todos os portugueses, especialmente dos que saíram da pobreza graças ao sacrifício destes e doutros empresários, que lutam diariamente para proporcionar a classe média aos pobres e ficar com a classe alta para eles. É preciso tirar os desgraçados da pobreza, "ma non troppo". Têm vontade de ajudar, mas hesitam, por saberem que o dinheiro só dá chatices. Têm o poder de melhorar a vida dos outros, mas não querem que sofram as agruras da vida das altas possibilidades.
Querem um país melhor, mas o melhor é que não seja para todos.»
Miguel Conde Coutinho
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