2.3.19

Ovos não, purpurina sim!



«Com a proximidade do Carnaval há quem poderia aproveitar a quadra para sair da casca, partindo o ovo. Basicamente, iniciar o movimento de saída do armário.

O mote já foi dado há dias, onde duas centenas de manifestantes antifascistas abafaram o protesto da extrema-direita, organizada numa dúzia em grupo, aquando da conferência do activista Jean Wyllys em Coimbra. Queriam os fascistas atirar ovos ao político brasileiro. Pois a resposta certeira voou sobre a forma de purpurina multicolor na direcção do rosto de um dos líderes do grupelho. Nada como os tornar visíveis. Há um conjunto de pessoas que bem podia pintar-se, dispensando o arremesso. Os fascistas nunca se souberam esconder.

O CDS-PP parece estar a querer tratar do assunto. Na semana em que mais um retardado artigo de opinião da tendência "Esperança em Movimento" (TEM) fez da mulher um objecto-fofinho-para-homem-limpar-o-penacho-após-o-trabalho-no regresso-ao-lar, Assunção Cristas pede a eventual suspensão ou exclusão do FIDESZ (partido populista e nacionalista húngaro de Viktor Orbán) do PPE. Não aparenta ser "make-up", antes purpurina pura. O recado interno está dado ao inenarrável Abel Matos Santos e "sus muchachos", os que fazem do tiro a Cristas um subterrâneo jogo do galo com o alto patrocínio do "Observador". Estatutariamente, o direito de tendência no CDS surge pela mão de Paulo Portas, como uma forma do partido combater o monolitismo de opinião, promovendo o debate interno entre as suas correntes. Nos dias de hoje, dá guarida a um grupelho dentro de um armário.

Está aceso o debate entre aqueles que entendem que os partidos podem ser panelas de escape ou válvulas-tampão para extremistas, contendo-os, e aqueles que consideram que, ao lhes darem guarida, apenas os institucionalizam perigosamente. Quando vemos o deputado do PSD Miguel Morgado a referir-se ao perigo das "fake news" e do populismo como "tretas de Bruxelas", percebe-se que o PSD ainda não encetou o que o CDS aparenta ter começado. Não está na altura desta gente desatar a dizer "Chega", saindo do armário?

Estão, ainda assim, a ser dias de clarificação. A Jerónimo Martins apresenta lucros de 401 milhões em 2018 e Soares dos Santos afirma que os pobres foram feitos "para a gente os transformar em classe média". A Associação Sindical de Juízes celebra o Dia da Mulher organizando um workshop de maquilhagem, numa altura em que - também na magistratura - o debate sobre a igualdade de género está na ordem do dia após a estupra decisão do juiz Neto de Moura relativamente a mais um caso de violência doméstica sobre mulheres. A Comissão Europeia recomenda a abolição dos vistos gold por comportarem mais riscos do que eventuais benefícios, mas só BE e PCP defendem a opinião que nos chega da Europa. António Cluny, magistrado português no Eurojust, finge que não há incompatibilidade de interesses quando o seu filho trabalha na sociedade que defende investigados e poderosos no Football Leaks e no e-Toupeira, tendo defendido um banco nas Ilhas Caimão contra o "whistleblower" Rui Pinto. Ovos não, purpurina sim!»

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