10.4.19

10.04.1924 - Sebastião da Gama



O nome de Sebastião da Gama nunca terá dito muito a alguns, outros tê-lo-ão já esquecido, mas a verdade é que faria hoje 95 anos. Morreu novíssimo, com 27, não cheguei a encontrá-lo, apenas conheci a sua viúva, minha homónima, alguns anos mais tarde.

Deixou pegadas pela Arrábida, terra de eleição de algumas das minhas férias e  habituei-me a lidar com a saudade a que alguns, muito próximos dele e de mim, jamais se habituaram. Uma dessas pessoas – Maria de Lourdes Belchior – escreveu um longo prefácio para Campo Aberto e deu-me um exemplar, que tenho aqui à minha frente, com dedicatória: Natal de 1962... E, dela, sou eu que tenho saudades.

Um poema de Cabo da Boa Esperança.

Meu País Desgraçado

Meu país desgraçado!…

E no entanto há Sol a cada canto
e não há Mar tão lindo noutro lado.
Nem há Céu mais alegre do que o nosso,
nem pássaros, nem águas…

Meu país desgraçado!…
Porque fatal engano?
Que malévolos crimes
teus direitos de berço violaram?

Meu Povo
de cabeça pendida, mãos caídas,
de olhos sem fé
— busca, dentro de ti, fora de ti, aonde
a causa da miséria se te esconde.

E em nome dos direitos
que te deram a terra, o Sol, o Mar,
fere-a sem dó
com o lume do teu antigo olhar.

Alevanta-te, Povo!
Ah!, visses tu, nos olhos das mulheres,
a calada censura
que te reclama filhos mais robustos!

Povo anémico e triste,
meu Pedro Sem sem forças, sem haveres!
— olha a censura muda das mulheres!
Vai-te de novo ao Mar!
Reganha tuas barcas, tuas forças
e o direito de amar e fecundar
as que só por Amor te não desprezam! 
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